O significado do nome não poderia ser mais propício pra esse menino. Davi significa "amado", "querido de Deus". E foi assim que eu entendi o que o Davi Teixeira era pro mundo: um presente. Um presente, uma dádiva pra quem tem a honra de conhecê-lo, conviver com ele e absorver um pouquinho da mensagem que ele, inconscientemente ou não, nos passa.
Bom, vou ambientar vocês: conheci o Davi durante o Bloquinho do Projeto Praia para Todos, uma iniciativa linda demais, que corre atrás da acessibilidade mais fácil para cadeirantes e portadores de necessidades. Um projeto de emocionar por brigar por uma causa que passa despercebida no cotidiano das pessoas. Um banho de mar faz diferença, frequentar a praia, ter esse contato com a natureza também. Revigora, ressuscita o amor próprio e traz um direito de todos, facilitado pela briga por uma rampinha de concreto e um caminho pela areia mais fácil para os cadeirantes. Enfim, durante o Bloquinho, os participantes se fantasiavam e o que achei mais lindo era que a maioria usava a cadeira de rodas como um adereço de sua fantasia! Criatividade nota mil. É aí que entra o Davi: ele estava de surfista e a cadeira de rodas competava a fantasia com um tubo, bem redondinho. A impressão é de que Davi estava dentro do tubo, habitat natural de todo surfista.
Acima de todos os benefícios da fotografia na minha vida, acredito que ela pode atuar como agente transformadora do mundo, nos fazendo enxergar situações que passam despercebidas por nós ou levando muito além algum sonho ou causa em que eu acredito. É por isso que eu fotografo. Foi aí que esse último fim de semana, combinei com a mãe do Davi de fazer umas imagens dele em ação. Logo na véspera, recebi um áudio dele: "Tia, eu tô muito animado pras fotos amanhã! A gente vai arrasar!". Acabei ficando sem celular na sexta à noite e sábado de manhã, mas às 9 horas da manhã, como combinado, cheguei ao projeto. De longe, vi o Davi já na água, não surfando, mas se o mar tivesse uma porteira, diria que ele estava pendurado nela, esperando-a abrir. Ele abriu um sorriso, que foi lá no fundo do meu coração, e respondi com um igual. Denise, a mãe, disse: achei que você não viesse, porque te mandei uma mensagem cedo e você não respondeu. Expliquei o paradeiro do celular e respondi: como eu não viria????
Nem que as tão prometidas frente fria e a chuva desabassem pelo Rio, essa sessão de fotos eu não perderia! A segunda frase dele foi: "eu quero surfar"! Então, 'vambora', Davi! O pai, por sinal, a cópia do Davi pegou a prancha e lá fomos nós pra água. Davi, super independente, caminhando a sua maneira e eu conversando com Luis, seu pai. A prancha do Davi também tem história, assim como o início dele no esporte. Davi estava na praia um dia, brincando na areia, quando um rapaz chamado Souto passou e perguntou se ele queria brincar com a prancha dele. Davi balançou a cabecinha. E la foram os dois pro mar. Na hora de ir embora, Luis, estava limpando a areia dele quando sentiu uma mão no ombro. Souto vira pro Davi e fala: "você gostou de brincar com a prancha?" Ele abriu o sorriso que desmonta qualquer um. "Então pode ficar, ela é sua."
E foi assim que tudo começou. A prancha existe até hoje. Depois da primeira sessão, Souto chegou na praia e acompanhou um pouco o Davi praticando. Ficou muito feliz com a performance e progresso do menino. Claro, tive que parabenizá-lo pela atitude. Sem tamanho! O que achei mais bacana, dentre todas as coisas bacanas que conclui nesse dia, foi a independência de Davi. Ele desce da cadeira sozinho, abre sanduíche, come brigadeiro de colher, o que exige uma coordenação fina. Tudo sozinho. E é essa busca pelos desafios que o faz ser tão grande, talvez do tamannho de Golias, seu rival na tão conhecida batalha bíblica. Recentemente, conseguiu apoio da marca brasileira Cristal Graffiti, a qual ofereceu-lhe uma prancha adaptada, com alças. Você acha que Davi quer uma prancha adaptada? Não, ele quer o desafio de equilibrar o próprio corpo, que não é simétrico, na prancha que foi do Souto. E pra isso, ele mesmo desenvolveu suas técnicas, suas adaptações, pra que pudesse sentir a adrenalina de deslizar sobre as ondas. O tempo todo em que esteve no mar, os pais acompanharam, não só fisicamente, mas com um olhar preocupado. Preocupação de mãe, porque não precisa. O menino nasceu pra ser peixe. Puxa o strap, se apoia na prancha. Tá bom, às vezes ele mostra um medinho, mas quem não?
Nosso dia não acabou aí. Fomos pra piscina e não tenho palavras pra descrever o Davi nadando. Hoje com nove anos, há quatro ele sabe nadar. Vai ao fundo da piscina, mergulha, planta bananeira, nada os quatro estilos. Eu nado três. Depois de uma sessão de nados, foi ser criança: brincou com a galerinha que estava de lazer na piscina, de pique-pega e muito mais. Pegou o skate e deu um ollie. Sério, fiquei cansada por ele.
Foi um sábado de muito amor e, se eu fosse enumerar a quantidade de lições e aprendizados com essa família, talvez terminasse em 2016 esse post. É muita superação, é muito desafio, é muita vontade de ultrapassar seus limites. É muito amor envolvido. É muita confiança. Cumplicidade, família, união. O esporte ajuda nesse processo. E eu, como fotógrafa, quero ajudar também. Seja pra mudar o cenário, seja pra evolução do Davi. Seja pra minha evolução como fotógrafa ou como pessoa. Com certeza, voltei de lá com um pedaço cravado do Davi em mim, da mãe e do pai. Conviver com um presente desses não é pra qualquer um. Fazer parte do brilho dessa estrela é uma honra. Obrigada por tudo, família Teixeira!
Davi e os amigos Souto e a esposa. Essa é a prancha que Souto deu de presente a ele.
Eu e ele!
Davi descobriu um novo ângulo para ver o mundo.
Davi e Denise, a mãe guerreira, companheira e principal incentivo dele.
Criançada reunida pra se divertir na piscina.
Skate da Cristal Grafitti, apoiadora e patrocinadora do Davi.